- miojo maquia
- 25 de jun.
Eu travei, me arrumando para o trabalho.
Boa tarde.
Desde que perdi meu emprego, venho enfrentando uma enorme dificuldade para encontrar outro na minha área. Parte disso é culpa da situação do mercado das artes. Parte é minha. Sempre tive dificuldade para me comunicar e para me “vender” como profissional, então, nem se fala.
Meu primeiro trabalho fixo foi em um estúdio de ilustração. O dono viu meus desenhos online, me chamou para um teste, e fiquei por lá por quase dez anos. Só saí porque o estúdio fechou. Era um lugar muito bom de se trabalhar.
Um tempo depois, um diretor de arte me encontrou pelo LinkedIn. Meu inglês era (e ainda é) péssimo, mas aceitei a entrevista. Passei. Fui contratado por um estúdio americano de jogos mobile e trabalhei lá por um ano, até o estúdio ser vendido e a equipe de arte inteira ser demitida, de forma bem escrota.
Desde então, tenho feito alguns poucos freelas para o meu ex-chefe do estúdio antigo. Mas são trabalhos raros, espaçados, e não sustentam uma vida.
Minhas economias acabaram.
Comecei a considerar empregos fora da área. Descobri que eu não sabia fazer mais nada. Sem experiência em cargos de base, acabei indo parar no telemarketing.
Eu sabia que essa área não combinava comigo. Eu sou introspectivo, tenho dificuldades sociais, e não sei vender nem a mim mesmo, quem dirá um produto. Mas o que mais eu podia fazer? As entrevistas não davam em nada, os freelas estavam secando, e a culpa por não contribuir em casa me consumia.
Então eu fui.
Não lembro ao certo quantos dias durei. Está tudo embaralhado na memória. Mas lembro do fim.
Estava saindo do banho para ir trabalhar quando meu corpo travou. Fiquei paralisado no banheiro. Não conseguia pedir ajuda. Não conseguia gritar. Com esforço, consegui chegar até a porta, onde minha namorada estava, ela deve ter ouvido algo estranho.
Eu estava babando e chorando, tomado de um terror absoluto. Não restava nenhuma dúvida: eu não podia voltar para lá.
Eu mal consigo conversar direito. É claro que eu não serviria para vendas. Era óbvio. Mas ainda assim… eu tenho contas a pagar, preciso comer.
Fui ao médico. Ele não soube dizer o que aconteceu. Ou talvez nem tenha se importado. Me receitou uma injeção dolorosa. Saí de lá me sentindo punido.
Esse colapso virou mais um trauma não tratado. E mesmo assim, sei que vou ter que superá-lo logo, porque minha situação não mudou.
Espero que você esteja bem. Espero que a sua profissão ainda não tenha sido precarizada por IA. Espero que os motivos que te mantêm vivo e sonhando ainda existam.
Boa sorte.
